Arquivo da tag familia junqueira

A Origem do Cavalo Mangalarga Marchador: História e Tradição

A Origem do Cavalo Mangalarga Marchador: História e Tradição

O cavalo Mangalarga Marchador é uma das raças equinas mais emblemáticas do Brasil, reconhecida não apenas por sua beleza e elegância, mas também por sua marcha suave e adaptabilidade a diferentes terrenos. Sua história está profundamente ligada à formação cultural e econômica do país, especialmente no estado de Minas Gerais, onde a raça surgiu e se consolidou. Este artigo explora as origens do Mangalarga Marchador, os primeiros criadores e o contexto histórico que permitiu o desenvolvimento dessa raça única.

*Contexto Histórico e as Raízes Portuguesas*

A origem do Mangalarga Marchador remonta ao período colonial brasileiro, mais precisamente ao século XVIII, quando os colonizadores portugueses trouxeram cavalos da Península Ibérica para o Brasil. Esses animais, principalmente das raças Andaluz e Lusitana, eram conhecidos por sua força, resistência e capacidade de trabalho, características essenciais para atividades como transporte, agricultura e pecuária.

No entanto, o terreno acidentado de Minas Gerais, marcado por serras e trilhas íngremes, exigia um cavalo mais ágil e com uma marcha confortável para longas jornadas. Foi nesse cenário que começou o processo de seleção natural e cruzamentos dirigidos, dando origem a um cavalo adaptado às necessidades locais.

*Os Primeiros Criadores e a Família Junqueira*

A história do cavalo Mangalarga Marchador está intimamente associada à família Junqueira, uma das mais influentes na região sul de Minas Gerais durante o século XIX. Gabriel Francisco Junqueira, o Barão de Alfenas, é considerado um dos pioneiros no desenvolvimento da raça. Ele possuía uma fazenda chamada Campo Alegre, localizada no município de Cruzília, onde iniciou um rigoroso programa de seleção genética.

Junqueira buscava um cavalo que combinasse resistência, docilidade e, principalmente, uma marcha cômoda — um andamento que permitisse ao cavaleiro percorrer longas distâncias sem fadiga. Para isso, cruzou os cavalos de origem ibérica presentes em sua fazenda com outros equinos trazidos de regiões vizinhas, incluindo animais de traços berberes e árabes, que já apresentavam adaptações ao clima e ao relevo brasileiro.

*O Surgimento da Marcha e a Consolidação da Raça*

O diferencial do Mangalarga Marchador está em sua marcha, um andamento de quatro tempos com deley na colocação dos  apoios diagonais no solo, proporcionando momentos de triplice apoio, garantindo estabilidade e comodidade. Essa característica foi sendo aprimorada ao longo de décadas de seleção. Os primeiros criadores valorizavam não apenas a funcionalidade do animal, mas também sua estética e temperamento, critérios que permanecem até hoje nos padrões da raça.

A marcha tornou-se uma necessidade prática: os tropeiros e fazendeiros da época precisavam de cavalos que pudessem ser montados por horas, transportando pessoas e cargas entre vilarejos e propriedades rurais. A comodidade da marcha era tão apreciada que passou a ser um requisito essencial para a definição da raça.

*A Origem do Nome “Mangalarga Marchador”*

O nome “Mangalarga” tem duas vertentes históricas. Uma delas remete à Fazenda Mangalarga, localizada em São Paulo, onde um ramo da família Junqueira se estabeleceu. Lá, os cavalos criados por eles ganharam notoriedade e passaram a ser chamados de “Mangalarga” em referência à propriedade. Contudo, em Minas Gerais, a raça desenvolveu características distintas, especialmente na marcha, o que levou à adição do termo “Marchador” para diferenciá-la dos cavalos paulistas, que posteriormente deram origem à raça Mangalarga Paulista.

*Institucionalização e Reconhecimento Oficial*

Apesar de sua popularidade desde o século XIX, o Mangalarga Marchador só foi oficialmente reconhecido como raça em meados do século XX. Em 1949, foi fundada a Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador (ABCCMM), sediada em Belo Horizonte, com o objetivo de organizar o registro genealógico e promover a padronização dos exemplares.

A criação de critérios rigorosos para registro — incluindo avaliações de marcha, conformação física e temperamento — garantiu a preservação das qualidades que tornaram a raça famosa. Hoje, a ABCCMM é uma das maiores associações de criadores de equinos do mundo, com mais de 600 mil animais registrados.

*Características e Legado Cultural*

O Mangalarga Marchador é um cavalo de porte médio, com altura variando entre 1,47 e 1,57 metros. Sua estrutura muscular, aprumos corretos e cabeça bem delineada refletem a mistura de resistência e nobreza. Além da marcha única, a raça é conhecida por sua versatilidade, sendo utilizada em atividades que vão do trabalho no campo a competições esportivas.

Culturalmente, o Mangalarga Marchador tornou-se um símbolo de Minas Gerais, frequentemente presente em festas tradicionais, como cavalgadas e rodeios. Sua história é celebrada anualmente em eventos como a ExpoMangalarga, em Belo Horizonte, que reúne criadores e admiradores de todo o país.

*Conclusão*

A origem do cavalo Mangalarga Marchador é um testemunho da relação entre o homem e o cavalo no contexto rural brasileiro. Desenvolvido a partir de necessidades práticas e do conhecimento empírico de criadores como a família Junqueira, esse animal transcendeu sua função utilitária para se tornar um ícone nacional. Sua marcha suave, herdada de séculos de seleção cuidadosa, continua a encantar gerações, mantendo viva uma tradição que é, acima de tudo, parte da identidade cultural do Brasil.

Conversar agora
Olá, posso te ajudar?